1) QUEM FOI NICHOLAS ROERICH?
Nikolai Konstantinovich Roerich (1874-1947) foi um proeminente pintor, escritor, historiador, poeta e líder espiritual russo. Nascido em São Petersburgo, ele demonstrou interesse em literatura, filosofia e arte desde jovem, vindo de uma família ligada à paz. Sua extensa educação incluiu estudos na Rússia e no exterior, destacando-se em várias disciplinas.
Roerich casou-se com Helena e teve dois filhos, Yuri e Svetoslav, este último seguindo os passos artísticos do pai. Sua obra abrangeu 6000 pinturas, afrescos em igrejas, desenhos para mosaicos e cenários para óperas. Colaborou com Igor Stravinsky na famosa obra "A Sagração da Primavera".
Além de sua contribuição artística, Roerich realizou pesquisas arqueológicas na Rússia e liderou expedições pela Ásia Central e China. Ele e Helena fundaram fundações nos EUA para promover cultura e teosofia. Em 1928, estabeleceu-se na Índia, onde fundou o Instituto Himaláico de Arqueologia.
Roerich foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz em 1929 e 1935, apoiado por figuras como Albert Einstein. Preocupado com a preservação cultural, criou o Pacto de Roerich em 1935, assinado por 22 países, visando proteger locais culturais em tempos de guerra ou paz.
Ele faleceu em Punjab, Índia, sendo cremado e suas cinzas espalhadas nas montanhas que tanto amava. A maioria de suas obras está em museus europeus, como o Museu Nacional de Artes da Letônia e o Museu Nicholas Roerich em Nova Iorque. Roerich deixou um legado significativo não apenas na arte, mas também na promoção da paz e preservação cultural.
Nicholas Roerich contou com o apoio financeiro de várias fontes para suas expedições. Uma das figuras importantes em seu financiamento foi o político e filantropo norte-americano Henry A. Wallace. Henry Wallace, nada mais nada menos que vice-presidente dos Estados Unidos de 1941 a 1945, durante a presidência de Franklin D. Roosevelt. Wallace era um homem de múltiplos interesses, incluindo a espiritualidade, filosofia e ciência e também tinha afinidade, assim como Roerich, pela Sociedade Teosófica, uma organização esotérica que promove a investigação dos mistérios da vida e a busca por sabedoria espiritual.
2) CRONOLOGIA DOS FATOS DE SUA VIDA
A família de seu pai, Konstantin Fyodorovich Roerich, tem origens escandinavas, e o sobrenome "Roerich" significa "rico em glória", remontando aos tempos dos vikings. Um dos primeiros Roerichs foi um Cavaleiro Templário no século XIII, enquanto outros desempenharam papéis destacados como líderes políticos e militares. Destaca-se um oficial sueco que participou na campanha russo-sueca contra 'Pedro, o Grande'. Os descendentes da família, mantendo sua fé luterana, estabeleceram-se no noroeste da Rússia. Em 1860, Konstantin casou-se com Maria Vasilievna Kalashnikova, com quem teve quatro filhos: Lidia, Nicolas, Boris e Vladimir.
Nicolas Roerich nasceu em 9 de outubro de 1874, em São Petersburgo, Rússia, um ano antes da fundação da Sociedade Teosófica. Ele foi batizado na Igreja Ortodoxa Russa, seguindo a religião de sua mãe, de linhagem puramente russa. Sua formação acadêmica foi diversificada, frequentando simultaneamente a Escola de Direito, a Faculdade de História e Filologia, a Academia de Artes e o Instituto de Arqueologia na Universidade de São Petersburgo.
Ao concluir o Ginásio Karl May em 1893, Nicolas Roerich matriculou-se simultaneamente na Faculdade de Direito da Universidade de São Petersburgo (onde se formou em 1898) e na Academia Imperial de Artes. A partir de 1895, ele estudou no ateliê do renomado Arkhip Kuinji, estabelecendo estreito contato com figuras culturais proeminentes da época, como V. Stassov, I. Repin, N. Rimsky-Korsakov, D. Grigorovich e S. Diagilev.
Nicholas Roerich concluiu sua formação na Academia Imperial de Artes em 1897, e seu último diploma de pintura, intitulado "Mensageiro", foi adquirido pelo renomado colecionador de arte russa, P. Tretiakov. Aos 24 anos, entre 1898 e 1899, Roerich já ocupava a posição de assistente do Diretor do Museu da Sociedade Imperial para o Incentivo às Artes, além de ser assistente de editor da revista de arte "Mir Iskusstva" ("Mundo da Arte").
Neste período, em 1899, ele conheceu Helena Ivanovna Shaposhnikova, que se tornou não apenas sua devotada companheira, mas também uma aliada espiritual ao longo de sua vida. O profundo entendimento e afinidade entre eles rapidamente se transformaram em um vínculo forte e vibrante, culminando no casamento em outubro de 1901. Ao longo de suas vidas, Nicholas e Helena Roerich caminharam de mãos dadas, complementando-se tanto criativa quanto espiritualmente. Helena compartilhava plenamente as aspirações e iniciativas de Nicholas Roerich.
O casal teve dois filhos: Yuri, nascido em 1902, que se tornaria um cientista-orientalista, e Svetoslav, nascido em 1904, seguindo os passos artísticos de seu pai.
Em 1903-1904, Nicholas Roerich e sua esposa empreenderam uma significativa viagem às antigas cidades da Rússia, visitando mais de 40 localidades conhecidas por seus monumentos históricos. Essa "viagem pelas antiguidades" tinha como objetivo o estudo das raízes da cultura russa. O resultado não apenas se refletiu em uma extensa série de pinturas do artista, mas também nos primeiros artigos escritos por Roerich, nos quais ele abordou questões relacionadas ao grande valor artístico da pintura e arquitetura de ícones russos antigos.
Helena Roerich (*1879 - +1955), sua companheira espiritual, desempenhou um papel significativo na disseminação do conhecimento esotérico, traduzindo a "Doutrina Secreta" de Helena Blavatsky do inglês para o russo, tornando esse conhecimento acessível na Rússia. Uma das telas mais significativas pintadas por Nicholas Roerich no final de sua vida foi "Mensageiro" (1946), dedicada a Helena Blavatsky, reconhecendo assim a importância dessa influência em sua jornada espiritual.
Nos livros de Nicholas Roerich, Helena Roerich é carinhosamente chamada de "inspiradora" e "amiga". Ela ocupava um lugar central em seu processo criativo, sendo a primeira a quem ele mostrava cada uma de suas novas pinturas. Apreciava profundamente sua intuição artística e seu gosto refinado, sendo que muitas das telas do artista foram concebidas com base nas imagens, pensamentos e percepções criativas de Helena. Sua influência não se limitava às pinturas; estendia-se a todas as esferas da vida de Nicholas Roerich. Por trás de seus atos criativos, versos, contos de fadas, pinturas e viagens, sempre estava Helena Roerich. Segundo Svetoslav Roerich, a colaboração entre Nicholas e Helena foi uma rara combinação de plena consonância em todos os planos, fundindo-se numa rica harmonia de expressão intelectual e espiritual.
Um exemplo marcante desse trabalho conjunto é a obra "O Véu Protetor da Santa Mãe de Deus", realizada entre 1906 e 1907. Os mosaicos, executados por V. Frolov, adornam a Igreja do Véu Protetor da Santa Mãe de Deus, localizada na aldeia de Parkhomovka, região de Kiev.
Após seus estudos na Rússia, Nicholas Roerich continuou sua formação em Paris e explorou diversos países europeus. Sua notável memória era reconhecida por muitos.
Em 1916, devido a uma grave doença pulmonar, Nicholas Roerich e sua família mudaram-se para a Finlândia (Serdobol), nas proximidades do Lago Ladoga. A proximidade com Petrogrado (São Petersburgo) permitiu que ele continuasse a se envolver ocasionalmente com os assuntos da Art Encouragement Society. No entanto, após os eventos revolucionários de 1917, as fronteiras entre a Finlândia e a Rússia foram fechadas, isolando Roerich e sua família de sua terra natal.
Em 1919, ao receber um convite da Suécia, Nicholas Roerich embarcou em uma série de exposições pelos países escandinavos. No outono do mesmo ano, aceitou o convite de Sergei Diagilev para trabalhar como designer de óperas russas com música de Modest Mussorgsky e Alexander Borodin em Londres. Juntamente com sua família, dirigiu-se para a Inglaterra, marcando mais um capítulo na vida e na carreira de Roerich.
No outono de 1920, Nicholas Roerich e sua esposa iniciaram uma nova fase em Nova York, onde ele ganhou destaque como uma espécie de guru espiritual.
Em 1920-1922, em Nova York, criou o Institute of United Arts e outras associações culturais e educacionais.
Em 1923, o Museu Roerich (Museu Nicolas Roerich) foi inaugurado em Nova York, que se tornou o primeiro museu de um artista russo no exterior.
Após sua estadia na cidade norte-americana, Roerich explorou a Ásia, estabelecendo-se, em 1928, na Índia, um país conhecido por seus líderes pacificadores e teósofos. Foi lá que ele fundou o Instituto Himaláico de Arqueologia.
Durante essa década, organizou e conduziu uma expedição de 5 anos a Ásia central (1924-1928), juntando-se a outros aventureiros, na busca pela cidade mística perdida de Shambhala, também conhecida como o lugar de mil nomes.
A equipe de Roerich incluía sua esposa, Helena Roerich, e seus filhos. Durante a expedição, Roerich coletou inúmeras esculturas, manuscritos e artefatos arqueológicos, e também documentou detalhadamente as culturas e as paisagens que encontraram.
Percorreram áreas remotas do nordeste da Índia, atravessando as montanhas de Karakoram que fazem fronteira com a China, Índia e Paquistão, passando eventualmente pelas vilas chinesas de Kotan e Kashgar, entre muitas outras. Ao longo do caminho, passaram um tempo considerável nas montanhas Altai e no deserto de Gobi central, chegando finalmente ao Tibete. Essa expedição monumental cobriu nada menos que 25.000 quilômetros de território inexplorado. Também foi relatado que fizeram um desvio para parar em Moscou em 1926, embora o motivo exato seja desconhecido.
Shambhala é descrita como uma cidade avançada tanto tecnologicamente quanto espiritualmente, habitada por reis tibetanos e seres iluminados, sendo também conhecida como Shangri-La ou Agartha. O nome Shambhala traduz-se aproximadamente como "lugar de paz" ou "lugar de tranquilidade". Apesar de descrições vagas indicarem que sua entrada está em algum lugar do Himalaia e que a própria cidade fica profundamente dentro da terra, sua verdadeira localização geográfica permanece um mistério até hoje. Diz-se que os habitantes de Shambhala desfrutaram de uma Era Dourada pacífica na superfície, até cerca de cinco mil anos atrás, no início da presente Era Sombria, conhecida no hinduísmo como Kali Yuga, quando foram conduzidos para o subsolo, possivelmente devido a um cataclismo global. Embora muitos budistas modernos acreditem que Shambhala só seja acessível pela mente, alcançando a iluminação, Roerich, entre outros, acreditava na busca física.
Em 1928, estabeleceu-se na Índia, onde fundou o Instituto Himaláico de Arqueologia..
No ano seguinte, 1929, foi nomeado para o Nobel da Paz pela Universidade de Paris. Teve o apoio veemente de Albert Einstein, H. G. Wells e Bernard Shaw.
Já na década de 30, Nicholas Roerich agregou artistas, pacifistas, juristas e governantes do mundo inteiro em quatro conferências internacionais (Bruxelas, 1931 e 1932; Washington, 1933 e Montividéo, 1933), as quais resultaram na Assinatura do Pacto Roerich pelos EUA e mais 20 países da América Latina, inclusive pelo Brasil, em 15 de abril de 1935, na Casa Branca, com a presença do então presidente americano Franklin Roosevelt (New York, 1947).
O Pacto de Roerich, a 15 de Abril de 1935, foi assinado na Casa Branca, nos EUA juntamente com mais vinte e um países da América. Outros depois o assinaram, representando este um antecipado instrumento de proteção às artes. O pacto declara a necessidade de se proteger a atividade e produção cultural no mundo, independente de a época ser de guerra ou de paz. Lugares de valor cultural seriam declarados neutros e protegidos,
Em 1935, foi novamente indicado para o Nobel da Paz. Neste mesmo ano organizou outra expedição, desta vez para a China, incluindo a Mongólia.
Criou o Pacto de Roerich em 1935, assinado por 22 países, visando proteger locais culturais em tempos de guerra ou paz.
Uma das telas mais significativas de N. Roerich pintadas no final da sua vida foi o “Mensageiro” (1946), dedicada a Helena Blavatsky.
Nicholas faleceu em Punjab, na índia, em 13 de dezembro de 1947. Foi cremado e suas cinzas espalhadas diante das montanhas que tanto amava e retratou milhares de trabalhos. A maioria das suas obras conserva-se hoje em museus europeus, como o Museu Nacional de Artes da Letónia e o Museu Nicholas Roerich em Nova Iorque.
A Bandeira da Paz, conhecida como o símbolo do Pacto de Röerich, representa um ideal humanitário de proteção às conquistas culturais da humanidade, de forma semelhante à Cruz Vermelha no alívio do sofrimento físico. O Pacto estabelece que instituições educacionais, artísticas e científicas, bem como missões relacionadas, serão consideradas neutras e protegidas pelos beligerantes. Essa proteção é estendida a todas as partes contratantes, sem discriminação quanto à lealdade ao Estado.
O design da Bandeira da Paz consiste em três esferas cercadas por um círculo em vermelho escuro sobre um fundo branco. Suas interpretações incluem a representação das áreas da Religião, Arte e Ciência ou as realizações da humanidade no passado, presente e futuro, guardadas dentro do círculo da eternidade.
Esse símbolo da tríade é universal, com significados variados, como o símbolo do passado, presente e futuro, ou a união da religião, ciência e arte dentro do círculo da Cultura. É encontrado em diversas culturas e tradições ao redor do mundo, desde templos hindus e obras de artistas renomados até escudos de cruzados e brasões de templários.
A Bandeira da Paz é mais do que um mero ornamento; é um símbolo profundo que transcende fronteiras e representa a evolução da consciência em todas as suas formas. A visão por trás dessa bandeira, conforme expressa por Helena Röerich, é a defesa dos tesouros culturais do mundo contra forças obscuras.
Helena Röerich destaca o papel das mulheres como propagadoras e guardiãs da cultura, destinadas a levantar a Bandeira da Paz. Ela instiga as mulheres a se despojarem dos condicionamentos da antiga era, acreditarem em sua força e participarem na criação de um mundo novo e melhor. A pintura "Madona Oriflama" de 1932, escolhida para representar o Pacto da Paz, retrata uma figura feminina com a Bandeira da Paz, simbolizando a essência da nova era e a defesa dos tesouros culturais.
A nobre ideia da Bandeira da Paz, conforme expressa por Nicholas K. Röerich, exige a união dos trabalhadores culturais em uma corrente que flui em direção ao grande oceano de ideias. A defesa das criações do gênio humano é uma missão urgente, especialmente diante dos atos de vandalismo que ameaçam inestimáveis tesouros culturais. O símbolo da Bandeira da Paz, com sua universalidade e profundo significado, é uma chamada à ação para proteger e preservar a riqueza cultural da humanidade.