René Bouchet foi entronizado Grande Druida por seu pai adotivo Paul Bouchet em 1976. O próprio Paul era Grande Druida da Gália. Ele fundou, junto com Philéas Lebesgue, o Colégio Druídico da Gália, em 1943, durante a ocupação alemã na França. Após a morte de Philéas Lebesgue, Grande Druida Ab Gwenc'lan em 1958, Paul Bouchet perpetuou a tocha da Tradição Gaulesa e Celta do Druidismo.
PAUL E LUCIENNE
Paul ensinava oralmente, apenas durante Cerimônias Druídicas com sua esposa, Lucienne, a Grande Druidesa Luciana /|\
Foi René, Grande Druida Rénatos Bod Koad, quem primeiro colocou os ensinamentos orais de Paul por escrito, nos Boletins de ensino mensais, começando em 1976.
Nesta ocasião, René criou o Colégio Druídico do ‘O Grande Carvalho Celta’, porque a forma de ensino estava mudando.
RENÉ E CLAUDINE
Paul aprovou isso. Ele morreu em 15 de outubro de 1979, três anos após entronizar René, Grande Druida Rénatos Bod Koad.
Hoje, ‘O Grande Carvalho Celta’ é chamado de Colégio Internacional de Estudos Celto-Druídicos (CIDECD). Possui membros ativos apaixonados pelo Druidismo em vários países do mundo.
Atualmente a Grande Druidesa Korridwen Bod Koad, Claudine Bouchet, viúva de René Bouchet, é quem perpetua a chama vinda dos seus antecessores, e o próprio Paul Bouchet, Grande Druida das Gálias, invocou os seus antepassados que remontam ao século XII.
Grande Druidesa Korridwen Bod Koad /|\
CIDECD França & CIDECD Brasil
Autorização de reprodução exclusiva aprovada para Libermente.
Tradução autorizada: Antônio Vicente.
© CIDECD-2012 - (www.cidecd.com)
Colégio Internacional de Estudos Celto-druídicos
OS CELTAS CRISTIANIZADOS
Nos anos que se seguiram ao desaparecimento do Cristo Jesus, houve intensa perseguição à sua família. Na Palestina, as principais vítimas dessas ações foram sua mãe, seus irmãos Jacques e João, seus amigos Lázaro (e suas irmãs Maria e Marta) e Maria Madalena. Pesava sobre eles o fato de serem multiplicadores da nova doutrina daquele que foi, injustificadamente, odiado naquele país.
Desmoralizados por esta perseguição injusta que se abateu sobre eles, o refúgio era encontrado nas orações. Também era necessário fugir. Mas para onde?
A Tradição Druídica que nos foi legada comenta que numa noite de verão, por volta de 22 de julho, Maria Madalena, que havia derramado tantas lágrimas ao pé da cruz, esta forca romana que nós, Druidas, não podemos adorar, teve um sonho com seu amado Senhor que, no esplendor de sua luz, a consolou e lhe sussurrou:
“- Fale a meu irmão Jacques, a Lázaro e suas irmãs para fugirem para a Gália, onde, você sabe, recebi a Iniciação dos Druidas. Peça a Jacques para estabelecer minha doutrina original; eles irão recebê-los como irmãos e irmãs. Vá ajudá-los a defender a sua independência diante de Roma, pois ela irá invadir o Ocidente”.
Tais comentários não são o resultado de uma imaginação fértil, porque os arquivos secretos do Vaticano contêm este segredo. A Igreja Católica Romana o expressaria mais tarde ao colocar a Festa de Maria Madalena em 22 de julho, com o objetivo de comemorar este importante evento, mas tomando o cuidado de ocultá-lo.
Após a revelação de obtida durante o sonho de Madalena, eles embarcaram em direção à Gália. Depois de uma longa viagem, financiada por José de Arimatéia, eles lá aportaram, num lugar chamado Les Saintes-Maries-de-la-Mer (As Santas Marias do Mar)[1].
Com a chegada da Igreja, surge um hiato que dá origem à figura do Bispo Druida. O mais famoso destes Bispos Druidas foi, sem dúvida, Germain. Ele era gaulês, edueno e oficial romano. Também foi nomeado Bispo de Auxerre, sob condições muito curiosas. Germain nasceu em Auxerre e era filho de pais piedosos e nobres. Foi enviado para as escolas mais importantes da Gália, nas quais teve grande sucesso.
[1](Maiores informações a este respeito são encontradas no livro Druidismo e Cristianismo de René Bouchet, disponível em francês pela Télétès Editions).
Assim, no primeiro século, o Druidismo reconheceu e assimilou as Doutrinas do Cristo, trazida por seus representantes. Elas foram amplamente divulgadas para o povo por meio das Tríadas Bárdicas, com a substituição do Sacrifício simbólico do Pão e do Vinho, considerados como elementos de transmutação dos produtos naturais do solo: trigo e uva em alimentos digeridos pelo corpo humano em evolução nos círculos de Abred. Os Druidas forneceram à Igreja Cristã nascente seus primeiros elementos.
Depois, partiu para Roma onde estudou Direito e logo ganhou grande reputação devido à sua eloquência. Seus talentos chamaram a atenção das autoridades romanas que acabaram por nomeá-lo Prefeito de Auxerre. Nomeação essa que ele aceitou com muito prazer.
No ano 418, Santo Amator, Bispo de Auxerre, teve duas revelações: sua morte iminente e uma orientação para nomear Germain como seu sucessor. Assim, ele reuniu o povo em sua Catedral e disse: “ - eis a vontade de Deus... Germain será meu sucessor”. Germain que estava presente, ficou estarrecido. A multidão aplaudiu entusiasticamente. Ele recebeu as diferentes Ordens Sagradas e aceitou a responsabilidade do Episcopado. Em seguida, ele e seu amigo Loup, Bispo Druida de Troyes, foram enviados à Bretanha pelo Papa com o objetivo de suprimir a Heresia Pelagiana. Germain também testemunhou por duas vezes a favor dos hereges, dado à sua maior compreensão, indulgência e espírito liberal, típico dos Druidas. Vejamos no que consiste essa heresia.
Pelágio (360-422), monge irlandês, dotado de grande conhecimento e de um caráter austero, criou uma doutrina chamada Pelagianismo.
Na Teologia Católica, o Pelagianismo é considerado como uma Doutrina Herética. O Pelagianismo considera o livre-arbítrio do homem ou da mulher como fator determinante para o desenvolvimento de suas potencialidades. E mais, dispensa a necessidade da graça e da redenção divinas, além de negar a existência do pecado original e da necessidade de batizar as crianças.
Em 390, Pelágio foi para Roma e ficou escandalizado com a moral inconsistente dos romanos. Lá, ele pregou o ascetismo Cristão e conseguiu muitos seguidores.
Seu rigoroso ensinamento moral continha notas druídicas e ele obteve uma boa aceitação no Sul da Itália e na Sicília. Nestas regiões, o Pelagianismo foi abertamente pregado até a morte de seu principal divulgador, Julian de Eclanum, em 455.
Pelágio argumentava que a queda de Adão não havia corrompido as faculdades naturais da humanidade. Segundo ele, os seres humanos podem viver uma vida virtuosa e merecem o Paraíso por seus próprios esforços. Leiamos um trecho de seus ensinos:
“- Se o homem tem o dever de evitar o pecado, é porque ele pode; agora seria injusto e absurdo lhe atribuir um crime o qual não depende dele evitar. Se ele não pode evitar, ele não tem nenhuma obrigação. Se o pecado de Adão deve recair sobre aqueles que não pecam, a justiça do Cristo Jesus também deve ser suficiente para aqueles que não creem, isto é, se participarmos do mal sem nossa culpa, devemos também ter a possibilidade de participar do bem sem nosso mérito”.
Pelágio afirmava que a graça está nos dons naturais do homem, incluindo a livre vontade, a razão e a consciência. Também reconhecia o que chamou de graças externas: o ensino e o exemplo do Cristo que estimulam à vontade, mas não têm poder divino inerente.
Para Pelágio, a fé e os dogmas não são importantes porque a essência da Religião é a ação moral. Sua crença sincera na possibilidade de desenvolvimento da humanidade é claramente derivada do Druidismo.
Para combater o Pelagianismo, o Papa Celestino I (422-432) enviou Germain e Loup (Bispos Druidas) para tal.
No século V, Roma tinha muitas preocupações com os britânicos. Prosper de Aquitânia nos confirma que, aos olhos do Papa Celestino, a Grã-Bretanha era uma fortaleza do Pelagianismo.
O Papa estava ciente de que Pelágio era um monge britânico da Irlanda e que Agrícola, filho do Bispo Pelagiano Severiano, tinha corrompido as igrejas da Grã-Bretanha, espalhando a heresia.
A situação se tornou tão gritante que o conselho de Pallagius foi confiado a Germain. Ele tinha a missão de restaurar a ordem. Sua missão foi bem-sucedida e desde então nunca mais se ouviu falar da heresia Pelagiana naquele país.
Mas os historiadores nos dizem que sua missão não era apenas religiosa. Eles também relatam que Germain foi ativo na luta contra os pictos e os anglo-saxões, fortalecendo a resistência britânica. Também é mencionada sua intervenção autoritária nas querelas que dividiam os príncipes da Grã-Bretanha. Portanto, não é de se estranhar quando ficamos sabemos que Germain também foi Prefeito da Armórica.
Percebemos que Roma enviou Germain com duas atribuições: manter a Grã-Bretanha sob o jugo do Império Romano tanto no aspecto político quanto no religioso. Isto pode ser constatado no Século V no qual temos a Grã-Bretanha sob domínio romano e aí surge a questão dos Celtas Cristianizados.
Neste mesmo período, Patrício é enviado pelo mesmo Papa Celestino, em 432, para evangelizar a Irlanda. Na sequência, Pelágio retorna à Roma.
Deve-se notar que os historiadores, muitas vezes, associam as missões de Germain, de Palagio e de Patrício. No entanto, a atuação de Patrício surge em meio e gira em torno da missão de Germain, sob a proteção do Papa Celestino. Já os laços entre Pelágio e Germain são historicamente conhecidos. A conexão entre Patrício e o Bispo de Auxerre são evidenciadas por Muirchu, um dos primeiros biógrafos de Patrício.
No entanto, é curioso notar que Patrício (ou Patrick) em nenhum lugar de suas Confissões faça menção a Germain. É um silêncio difícil de explicar uma vez que o Bispo de Auxerre teve papel fundamental em sua vida.
Por outro lado, é Prosper de Aquitânia quem nos fala sobre Palágio e Germain, sem mencionar Patrício. Enfim, qual a credibilidade do testemunho de Muirchu e da Tradição que parece ter nascido a partir dele?
Na verdade, Muirchu, principal hagiógrafo de Patrício, escreveu tardiamente e seu texto foi direcionado com vistas a servir a causa romana. Nesta época, século VII, a questão Pelagiana ainda prevalecia.
Com a ida de Palágio para Roma, Patrício aproveitou a oportunidade para evangelizar a Irlanda, destruindo qualquer manifestação Druídica que encontrasse. A atuação de Patrício não foi orientada por Germain e, portanto, não podemos relacionar a missão de ambos.
Com isso, não podemos dar crédito aos historiadores que tentam mostrar que a igreja de Patrício na Irlanda foi o protótipo da Igreja Celta, tal qual surgiria 50 anos depois.
Além disso, Patrício fundou uma Igreja Episcopal na Irlanda continental onde o Bispo tem autoridade jurisdicional; e não uma igreja monástica, como mais tarde seria a Igreja Celta, na qual esta autoridade era do Abade e ele jamais a reclamava para si.
Patrício, para destruir a influência dos Druidas que se opunham ao seu apostolado, se fez passar por Druida (o Druida de Deus), tudo para ridicularizá-los perante os olhos do povo.
Em 420, Germain, Prefeito da Armórica, acompanhado por seu amigo Loup, Bispo de Troyes, descendo o rio Sena, em seu caminho para a Bretanha, parou em Nemetodunus, hoje Nanterre.
Ali, em meio à multidão que correu para vê-los, Germain observou uma menina de 6 anos, com uma medalha redonda no pescoço. Nela havia uma cruz com uma saliência em seu centro. Este fato intrigou Germain que perguntou o nome da criança:
“- Gwenfyd”! Respondeu ela.
Para os adeptos da Religião Druídica, Gwenfyd ou Gwenwed significa o mundo branco (Gwen) de Luz e de Conhecimento, representado, esotericamente, por um pequeno círculo localizado no centro da Cruz Celta.
Assim Germain trouxe seu apoio total a Geneviève de Lutèce que, em 451, salvou Paris da fome e de Átila que, ao deixá-la, incendiou Autun para se vingar dos burgúndios. Mas quando atravessou o Reno, na altura de Mulhouse, Átila libertou o Bispo Druida Loup.
Brevemente, falemos sobre Remi, um outro Bispo Druida. Remi, nome dado ao líder espiritual da tribo Celta de Remes, foi Bispo de Reims e após a conversão de Clotilde, batizou Clovis e os seus soldados.
O Império Romano ruiu completamente em 476, quando Odoacro, chefe das hordas bárbaras, se estabeleceu na Itália e destronou o último imperador, Romulus Augustus.
Com isso, as invasões anglo-saxônicas voltaram a ocorrer na Grã-Bretanha e os britânicos foram obrigados a se recuarem para o Oeste. Muitos se fixaram na Armórica, que se tornou território britânico. Aqueles que permaneceram na Grã-Bretanha, estabeleceram novos Reinos Celtas, uma vez que as ordens romanas haviam desaparecido. Os Cristãos do extremo Oeste se encontravam separados do continente e ficaram mais de 50 anos longe do Cristianismo Romano, o que promoveu seu enfraquecimento. Neste cenário, os Druidas puderam reestabelecer sua grande influência.
No início do Século VI, o monastério substituía a cidade episcopal e autoridade jurisdicional dos Bispos Romanos passou para Abbés, onde a influência Druídica era inegável.
É quando Columbano, monge e Iniciado Druida, apelidado de “o peregrino pelo amor a Deus”, tornou-se o verdadeiro símbolo do ascetismo e da piedade. Ele desembarcou perto de Saint Malo, na Bretanha. Com seus amigos monges, chegou em Vosges e se estabeleceu em Annegray, ao pé da montanha St. Martin, na cidade de La Voivre, em Haute-Saône, local de um antigo castrum (acampamento) romano.
Ali, os monges reaproveitaram o que havia sobrado do antigo acampamento, fizeram reformas e edificações em madeira. Simultaneamente, acolhiam os doentes e começaram a treinar novos monges. Columbano fez um retiro inicial em uma caverna na montanha (atualmente no território de Sante-Marie-en-Chanois). Diz a lenda que foi Columbano quem trouxe à tona a fonte milagrosa, situada nas proximidades.
Dado o sucesso das vocações, Columbano decidiu criar um novo mosteiro em Luxeuil, local mais acessível e de fontes termais. Ele e seus monges praticavam uma vida contemplativa, equilibrada por um intenso trabalho manual. Dedicavam-se à educação, a obras de caridade, à evangelização, tudo de acordo com o ensinamento dos Druidas que alia o trabalho material com as ocupações espirituais.
Foi em Luxeuil que se fundou o chamado cristianismo celta, por volta do ano 650, época em que ele entrou em conflito aberto com Roma. Por iniciativa de Gregório Magno e seus sucessores, a Igreja de Roma foi reorganizada e começou a conversão dos alemães. A Igreja adotou uma política combativa contra tudo aquilo que não fosse de interesse deles. Em outras palavras, Roma renascia, se renovava e crescia. O conflito foi inevitável.
COLUMBANO - Retratado no Vitral da cripta da Abadia de Bobbio, Itália.
Em consequência, os clérigos dedicados à causa da Igreja Católica trataram de rotular os Celtas e suas comunidades como hereges e cismáticos.
Apesar disso, a única preocupação dos monges Celtas era com o estudo, o estudo da palavra divina presente nas Tríadas e que transmitiam amplamente às pessoas.
Eles nunca contestaram a autoridade espiritual do Pontífice romano, conforme uma carta de Columbano ao Papa Gregório Magno, no auge da disputa pela Páscoa. Para eles, o aspecto litúrgico era o que prevalecia, embora não negligenciassem o lado institucional e político.
Sobre a Páscoa, havia uma calorosa discussão sobre qual data adotar. Na verdade, durante os primeiros séculos, a incerteza nesta área era grande. A Igreja Romana se ateve aos cálculos de Dionísio, o Pequeno. Mas os Celtas que ainda estavam atrelados a seus costumes, com base em seus conhecimentos de Astrologia e precessão dos equinócios, não eram favoráveis à datação romana. Da mesma forma, os monastérios Celtas de Columbano continuaram seguindo os antigos costumes e celebravam a Páscoa de acordo com o Calendário Pagão, mais observado em todo o resto do país.
Outro ponto que Roma discordava era da tonsura usada pelos monges celtas. Essa tonsura era um tipo de raspagem do topo da cabeça, em forma de uma coroa, enquanto todo o cabelo da parte de trás era mantido. Esta teria sido, nas palavras dos clérigos romanos, a tonsura de Simão, o Mago.
Seja como for, os Celtas observavam os Ritos especiais e ligados ao Druidismo no que diz respeito ao Batismo (consagração aos elementos) e à consagração dos Bispos.
Nesta época, bastante conturbada, os Papas se esforçaram não somente para determinar os limites das dioceses, mas também de hierarquizá-las. Assim, eles decidiram dar autoridade às antigas metrópoles, Canterbury para as Ilhas Britânicas e Irlanda e Tour para a Gália ocidental. A vontade era submeter os britânicos aos seus inimigos. Desta forma, a autoridade temporal firmou seu poder através por meio da autoridade espiritual.
Contudo, graças à oposição dos Celtas, os Druidas conseguiram subsistir de alguma forma. A importância desta oposição fica evidente quando examinamos as circunstâncias da famosa entrevista do Carvalho, onde Santo Agostinho de Cantuária, representante de Roma, reuniu os Bispos britânicos para tentar resolver as divergências.
Agostinho, monge beneditino, desembarcou em Kent, em 597. Ele veio a mando de Gregório Magno a fim de converter os anglo-saxões. Ele também ficou encarregado de submeter à sua jurisdição os Bispos Celtas. Gregório deu-lhe autoridade sobre todas as ilhas britânicas.
A primeira entrevista foi realizada num local chamado de o Carvalho de Agostinho, perto de Bristol. Ele pediu aos Bispos locais para ajudá-lo em sua missão de evangelização e na adoção dos costumes romanos.
Os Bispos Celtas afirmaram que não poderiam se submeter sem que conversassem entre si e pediram que fosse marcada outra reunião.
Nesse ínterim, os Bispos Celtas consultaram um Druida anacoreta que contava com o respeito de todos. O conselho do Druida foi:
“- Obedeçam a Agostinho se ele for um homem de Deus”.
“+ Mas como saberemos isso?” Perguntaram os Bispos.
O Druida lhes respondeu: « - Se ele se levantar quando vocês chegarem, saberão que ele é servo de Cristo. Portanto, ouçam e obedeçam-lhe. Mas se ele desprezar vocês e não se levantar, apesar de seu grande nome, vocês devem desprezá-lo » . (Bède, H.E. II 2).
No dia marcado para a próxima reunião, os Bispos Celtas chegaram e Agostinho permaneceu sentado. Assim, ele não teve êxito em sua missão.
Somente 50 anos depois é que iria ocorrer uma outra reunião entre os representantes da Igreja e os Celtas. Isto ocorreu em 664, em Whitby, na Northumbria. Contudo, este encontro foi marcado por grande animosidade e um intenso debate religioso foi travado, principalmente devido ao fato dos monges irlandeses de Iona terem convertido a Northumbria, por instigação do Rei Oswy.
Eles fundaram o primeiro mosteiro de Lindisfarne que, rapidamente, se tornou um foco de expansão religiosa e casa de uma vasta família monástica. Mas esta missão Celta entrou em confronto com as missões beneditinas do Sul. Um Sínodo foi necessário.
Tal confronto foi causado pelo beneditino Wilfrid. Por algum tempo, ele foi aluno de Lindisfarne mas passou para o lado de Roma após sua viagem àquele país.
A ala Celta era representada por Columbano, abade de Lindisfarne. O próprio Rei Osny, de obediência Celta, presidiu o Sínodo, mas seu filho Achfrid, favorável à ala romana, apoiou Wilfrid.
O Rei se deixou convencer e foi favorável aos costumes romanos. Columbano recusou-se a aceitar tal situação, saiu de Lindisfarne, com alguns monges, e voltou para Iona.
O Sínodo de Whitby é um marco na história dos Celtas Cristianizados. Ele sinaliza tanto o ponto mais alto de sua expansão, bem como o início de sua decadência. Aos poucos, o calendário romano ia sendo adotado.
A influência do Sínodo de Whitby se fez sentir na Northumbria. A Irlanda do Norte se converteu. A Irlanda do Sul já estava convertida antes de Witby, provavelmente por causa dos laços que a prendiam ao continente, ao Reino Picto, enfim a Iona.
Um pouco mais tarde, a cristianização chegaria aos demais países britânicos. O fato é que o conflito religioso foi particularmente agudo nesses países. A submissão do País de Gales ocorreu no final do Século VIII. Houve uma nova onda de perseguição aos Druidas que se instalaram no continente.
No caso da Bretanha, temos poucas informações. O que se sabe é que o mosteiro de Landevennec só abandonou a regra irlandesa pela beneditina em 818, por ordem do Rei Luís, “o Piedoso”, após a derrota do Rei Morvan.
Esta submissão litúrgica não foi seguida de uma reforma das instituições eclesiásticas. Com isso, os Celtas Cristianizados mantiveram o caráter monástico por um longo tempo. Também contaram com a proteção de Bento de Aniane, Grande Druida da Gália, amigo e conselheiro de Luís, “o Piedoso”, Rei da França.
Na Gália, portanto, os Colégios Druídicos do Norte e do Centro da França tiveram a felicidade de dar prosseguimento às suas atividades de forma velada, sob o manto beneditino, do qual eles utilizaram a organização.
Na verdade, nós atribuímos à influência de Bento de Aniane todos os regulamentos monásticos ou semimonásticos, promulgados em Aix-la-Chapelle, entre 809 a 817. Nesta época, a Abadia de São Galo foi considerada um modelo para os demais mosteiros da cristandade, e assim o foi por muito tempo. Os Sínodos de Aix-la-Chapelle transformaram toda a vida monástica ocidental.
Os mosteiros beneditinos permaneceram até o século XII como os principais centros, se não os únicos, de desenvolvimento e transmissão de uma elevada cultura sagrada e profana. Assim, à sombra de seus claustros, a Iniciação Druídica era ministrada.
Mas as invasões escandinavas trouxeram um outro grande revés para os Celtas Cristianizados. Eles invadiram toda a Europa cristianizada. Com isso, os países Celtas, devido à sua posição geográfica, foram os mais atacados pelos vikings que se encontravam na Escócia. De lá, foram em direção à Irlanda e à Bretanha. Como os monges Celtas gostavam das ilhas e costas, os mosteiros foram alvo fácil para os invasores.
Além disso, essas invasões balançaram politicamente os países Celtas, cuja estrutura já estava fragilizada. Foi a ocasião perfeita para que os inimigos pudessem consolidar seu poder e domínio sobre os Celtas.
A conquista normanda anunciava o fim das comunidades Celtas Cristãs de todo o canal marítimo. O País de Gales, a Irlanda e a Bretanha caíram nas mãos dos Reis normandos. A Escócia sofreu com as investidas, mas conseguiu escapar deles.
Enquanto isso, na França, os Celtas Cristianizados estavam bem integrados na Ordem dos Beneditinos, em Cluny. A influência dos Druidas foi decisiva para a conciliação entre o Rei da França, Carlos III, e o chefe normando Rollo que jurou lealdade ao Rei da França. Rollo se tornou duque da Normandia ao adotar o Cristianismo e ao assinar o Tratado de Saint Clair sur Epte, em 911.
Podemos, agora, compreender claramente por que as Tradições Celtas e a essência do Druidismo foram mais preservadas na França do que na Grã-Bretanha.
Inegavelmente, a arte românica tal qual expressa e assinada pelos beneditinos apresenta elementos da Tradição Celto-druídica. A Ordem porta, em seu brasão, um carvalho decapitado. Há uma representação de São Bento na qual ele segura um vaso quebrado de onde sai uma serpente. Este símbolo do conhecimento e era venerada pelos Druidas sob o nome de Lucellos, o Espírito de Luz.
Os beneditinos estabeleceram seus santuários sobre os antigos lugares sagrados para os Druidas, onde as radiações das correntes telúricas são excepcionais. Fato este que ainda hoje podemos verificar.
Os Celtas Cristianizados desempenharam um papel fundamental na defesa das Tradições Druídicas, tanto na Irlanda quanto na Grã-Bretanha, até o Século X, sendo que na França essa proteção durou mais tempo.
Todos esses monges deixaram suas marcas impressas nas letras latinas de seu tempo, especialmente durante o reinado de Carlos Magno.
As missões na Gália foram organizadas em torno da personalidade de Columbano. É preciso lembrar sua longa peregrinação e suas edificações em Aunegray, Fontaines, Luxeuil; seu posterior exílio, sua viagem ao longo do Reno, sua estadia na Suíça e sua morte em Bobbio, na Itália.
Por onde passou, despertou o ardor monástico e muitos mosteiros surgiram, fundados pelos seus discípulos, dentre eles: Saint Valery, Faremoutiers par Sainte Fare, Jouarre par Saint Adon, Rebais par Saint Ouen, Fontenelle par Saint Wandrille, Jumièges par saint Philibert, Chelles e Corbie. Até mesmo o famoso São Eloi, sem ser um monge, encoraja fortemente a expansão Céltica de Colombano.
Esta enumeração de nomes conhecidos revela o quanto a Gália do Norte deve a Colombano, sem falar dos mais de 50 mosteiros nascidos de sua influência.
Sobre a preservação e a ocultação das Tradições Druídicas na Ordem Templária e nas diferentes Confrarias dos Companheiros, não vamos desenvolver aqui, uma vez que isto já foi descrito em nosso livro Druidismo e Cristianismo.
Além disso, se observarmos as Igrejas e Catedrais europeias, com um olhar atento, encontramos, em todos os lugares, as assinaturas ou marcas de nossa Tradição, quer na arte românica ou gótica.
Se por um lado o Druidismo tem poucos documentos escritos que permitam precisar sua História, por outro, há uma cadeia efetiva de sua transmissão: Pitágoras, Aristóteles, São Bernardo, Rabelais, Jehan Bouchet e depois os trovadores (verdadeiros bardos no sentido exato do termo).
No Século XII, as Igrejas e as comunidades Celtas desapareceram completamente. Mas é inconcebível pensar que não tenha restado nada de uma Tradição Religiosa e monástica que sobreviveu por tanto tempo.
Na Irlanda, a reforma eclesiástica precede a conquista, mas ela não é fruto direto do trabalho direto dos Arcebispos de Canterbury, apesar de ter nascido sob o impulso deles. Seria São Malaquias, discípulo de São Bernardo, o epicentro do processo. No entanto, morreu em Claraval durante uma viagem a Roma e não teve como ver o resultado de seus esforços. Eles foram muito válidos pois resultaram num Sínodo em Kells, em 1153, dando à Irlanda a organização eclesiástica que ela mantém até hoje.
No plano monástico, a Ordem dos Cistercianos assumiu o antigo monaquismo Celta, isto é, a dedicação exclusiva à vida religiosa. Embora essas reformas e essas fundações fossem anteriores à chegada dos Plantagenetas (conjunto de monarcas britânicos que reinaram entre 1154 e 1399) na Irlanda, elas são o efeito indireto da expansão normanda. Portanto, não é de se estranhar que a nova Igreja se submeteria, sem reservas, à autoridade de Henrique I.
Isto facilita para os Papas a confirmação de suas conquistas e o investimento na missão reformadora.
Na Escócia, a Reforma foi realizada por uma soberana, a Rainha Margaret e especialmente por seu filho Davi. Este abriu o Reino à influência normanda. Margaret vetou os cultos Celtas e difundiu os de Roma. Já David assumiu a reorganização da Igreja.
Na Bretanha, a disputa entre as cidades terminou em favor dos bispos de Tours.
Na Gália, as Tradições Celto-druídicas ficaram incólumes, graças à proteção de São Bernardo de Claraval, Grande Druida da Gália.
René BOUCHET
Grande Druida Renatos Bod Koad /|\
(1940-2015)