Texto de autoria de Deisa Cederqwist
O Sábio e a Fada
(Para meu querido Amigo e Mentor, Ir.´. H´.´)
No aconchego das montanhas, o sábio olhava a natureza. Se sentara debaixo desta árvore há anos. Tentava desvendar o mistério desta cerejeira, que ali estava, dando frutos no verão e, na primavera, se enchendo de flores... não haviam outras árvores frutíferas ao seu redor. Ela estava frondosa entre as montanhas, mas solitária.
Assim também se sentia o sábio muitas vezes, vivendo no meio dos homens, sem ser igual aos homens. Quanta luta travara nos seus tenros anos para se parecer aos homens, se vestir como eles, falar como eles, fazer todas as coisas do dia a dia....mas a natureza o curvou; seus galhos debatiam na tempestade, se secavam no inverno, mas também floriam com a primavera e davam frutos saborosos que oferecia aos que por ali passavam..
Mas a pergunta inquietava o sábio: - como viera esta cerejeira parar ali e se adaptar a um meio que não era próprio para ela?
Resolveu perguntar à Fada das árvores frutíferas; pensou nela intensamente e a chamou pelo nome; fechou os olhos e desejou, desejou de todo coração, pois assim fizera sempre; visualizava, desejava e manifestava. De repente sentiu um toque sobre seu ombro - uma luz suave, de cor quase magenta com dourado irradiava, como que saindo de dentro da fada. iluminando ao redor daquela criatura meiga e graciosa. Como adivinhando o pensamento do sábio, ela foi lhe dando respostas, contando uma historia:
"A historia desta árvore é uma historia de amor, amor da natureza para com os homens... os homens que aqui viviam há muitos e muitos anos atrás estavam se embrutecendo com o trabalho pesado da lavoura.
Eles só olhavam para o solo improdutivo, árido, usando ferramentas “arquaicas” para produzirem algo para comer, se esquecendo de alimentar os olhos que levavam esperança a alma; suas peles estavam secas, a cada dia suas línguas se silenciavam. A fada das árvores frutíferas, que em realidade se chama Amara, havia escutado falar da hostilidade deste povo e foi visitá-lo. Nenhum destes homens a vira sobrevoar sobre suas cabeças, eram homens rudes, mas trabalhadores e de bom coração. Decidiu dar-lhes de presente uma cerejeira, para que eles pudessem descansar de baixo de sua sombra. Ela suavizara o coração com suas flores, despertara os sentidos com o seu cheiro e colocara um doce de néctar nas suas bocas caladas, e assim alimentara-os com o seu fruto. Já há muito tempo, este povo se fora. Seus ascendentes aprenderam a cantar e a dançar ao redor desta arvore. Comemoravam a chegada da primavera, festejavam o verão e se tornara um povo alegre, a terra produzia alimentos que eles exportavam, o pequeno vilarejo se tornara uma cidade cheia de vida e movimento, todos se conheciam, se ajudavam, se respeitavam.... e tudo isto começou com o presente da Fada Amara, um gesto de amor, de esperança, de piedade, de graciosidade".
Assim também era a historia do sábio. Ele chegara a este lugar, andava silencioso entre este povo, observando uma certa magia entre eles. Foi ficando e os habitantes o aceitavam como parte deles. Aos poucos ele foi ficando conhecido, por aparecer onde o precisavam, por ser um contador de historias, pela cura que oferecia aos doentes, pelo sorriso amável e profundo, pelos olhos bondosos sempre a escutar os tumultos internos. Ajudava aos que estavam preparados a atravessarem o que ele chamava “a dor do mundo”, a “escuridão da alma”.
Hoje, ele e a cerejeira são figuras importantes na vida deste povo. Seria ele também um presente da Fada Amara á humanidade?
A esta altura, todos sabiam.
Mas ele, na sua humildade, não se achava merecedor de ser comparado a mais frondosa e mágica árvore entre todas as árvores... Mas ele o era, todos sabiam, menos ele. Até que a Fada retornou para contar sua própria historia, através da árvore de cerejeira".
FIM
Este é meu presente para você.
Com muito amor e carinho,
Deisa Cederqwist.